Uma testemunha entregou planilhas com os valores de propinas supostamente pagas pelas empresas Verdurama e SP Alimentação para cerca de 30 prefeituras do País. Ouvida em sigilo pelos promotores que investigam o caso da máfia da merenda escolar, a pessoa trabalhou em uma das empresas e disse que tinha conhecimento dos pagamentos para prefeitos, secretários e funcionários. Só a prefeitura de Carapicuíba entre os meses de abril e dezembro de 2007, por exemplo, teria recebido R$ 363.041,55 de propina. A cidade na época era governada por Fuad Chucre (PSDB).
O nome de Chucre é um dos 22 citados em conversas interceptadas pela Divisão Antissequestro (DAS) em 2008. Os policiais da DAS investigavam o sequestro de uma empresária e pediram à Justiça a interceptação de telefones ligados ao número usado pelos sequestradores. Entre eles estava o do financeiro Marco Antônio Tressoldi. Ele trabalha para a Verdurama. Seus diálogos e os do empresário Givanildo Marques da Silva, o Tiquinho, foram gravados. Neles, há referências de pagamentos a um secretário e doações a campanhas políticas.
No caso de Carapicuíba, só em 2007 a prefeitura pagou R$ 10,3 milhões à SP Alimentação - o maior pagamento ocorreu em maio, com R$ 1,41 milhão. Na planilha existe uma anotação ao lado dos valores mensais: "Tico, para sua informação, Simone". Tico seria Tiquinho, que foi sócio da Verdurama até 2008, quando teve as conversas grampeadas.
Tiquinho cita em dez dessas conversas o nome de Heloizo Gomes Durães, dono da SP Alimentação. Segundo o Ministério Público Estadual, Tiquinho seria um mero subordinado de Durães, verdadeiro dono da Verdurama e da SP Alimentação. Em uma conversa interceptada em 12 de setembro, às 11h06, Tiquinho conversa com Carla e pergunta sobre doações. Menciona, então, o nome completo de Durães. Depois, às 15h29, Tiquinho conversa com Tressoldi e diz: "Fala que a SP tá devendo de "retorno", fora a campanha, dois milhões". Ele afirma que "vai pagar Carapicuíba na segunda-feira". Em 17 de setembro, o empresário conversa com "o Doutor". Falam sobre "valores da planilha de Osasco", o primeiro de R$ 130 mil. Mas teria sido paga uma quantia bem maior.
"Os grampos confirmam os depoimentos, segundo os quais havia pagamento de propina em diversas cidades", afirma o promotor Silvio Antônio Marques, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público. O Grupo de Atuação Especial de Repressão a Cartéis e a Lavagem de Dinheiro (Gedec) também investiga o caso.
O advogado José Maria Trepat Cases, que defende a Verdurama, nega que as conversas interceptadas pela DAS tenham relação com pagamento de propina. Ele afirma que os diálogos dizem respeito a pagamentos de fornecedores. A SP Alimentação diz que só vai se pronunciar pelas vias judiciais.
Da Agência Estado
Nenhum comentário:
Postar um comentário