O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) abriu seu discurso em Plenário, nesta terça-feira (26), com uma reflexão sobre as causas da corrupção no país, desvio apontado como responsável por abalar o conceito da classe política perante a sociedade.
- Sou de uma geração, como a maior parte aqui, que começou na política com medo de sujar as mãos de sangue, no terrorismo, na guerrilha, ou sob tortura e prisões. Mas o triste é que essa geração está terminando sua vida política com medo de sujar-se de lama. Porque a sensação que se tem, hoje, é de que cada pessoa que faz política caminha em um rumo no qual, a qualquer momento, pode respingar sobre si a lama que pesa sobre todas as cabeças daqueles que se dedicam à vida pública - avaliou.
Para o senador, a primeira causa da corrupção é a escravidão.
- Um país que viveu 400 anos com escravidão é um país que foi por 400 anos corrupto, pois não há maior corrupção do que vender pessoas. A história do Brasil é uma história de corrupção por conta da escravidão - afirmou.
Outro fator histórico a favorecer a corrupção - afirmou Cristovam - é a devastação da natureza. E observou que o único gentílico com o sufixo "eiro" - que designa profissão, e não naturalidade - é brasileiro.
- Nós somos produtores de pau-brasil, não fomos ocupantes sérios de nossa terra - comentou.
O sistema político brasileiro também foi atacado pelo senador pelo Distrito Federal:
- Temos um sistema político viciado em compadrio. Isso incentiva a corrupção. É algo muito próximo da compra de voto: um compra com dinheiro, outro com favores - ressaltou.
Cristovam também explicou o que chamou de "corrupção das prioridades", praticada pelos políticos.
- Aprovamos um Orçamento incompatível com a moralidade. Vamos colocar R$ 15 bilhões para a Justiça, R$ 5 bilhões para o Congresso Nacional e apenas R$ 8 bilhões para a educação de base. Mas a gente não percebe que essa é uma corrupção nas prioridades - alertou.
Supostos excessos no caráter tolerante da sociedade brasileira também foram citados por Cristovam. Segundo ele, a sociedade fecha os olhos para tudo: para a corrupção e também para a impunidade, facilitada por "artimanhas jurídicas". Por fim, criticou "a omissão dos honestos".
- Como dizia Churchill, para a democracia funcionar decentemente, era preciso que os honestos tivessem a audácia dos canalhas. Nós não temos essa combatividade - afirmou.
O parlamentar criticou ainda a complacência da sociedade para com os políticos constantemente envolvidos em denúncias de corrupção. E lamentou o fato de a honra não ter nenhum valor no país.
- De tanto ver a corrupção prevalecer, as pessoas parecem achar que a honra é um estorvo, não é um patrimônio - disse.
Em aparte, a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) disse ser inadmissível "que uma autoridade ache que um dinheiro ilegal é importante para o estado". Para ilustrar sua declaração, citou entrevista da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, na qual esta teria dito que a atividade madeireira ilegal no Pará "faz a economia do estado andar".
Em outro aparte, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) afirmou não existir "coisa mais triste" do que ver pessoas que pregaram honestidade a vida inteira praticarem corrupção ao chegarem ao poder, com a justificativa de que outros também o fizeram. Já o senador Mão Santa (PMDB-PI) fez publicamente a Cristovam um convite para comparecer a solenidade em instituição educacional particular em Teresina.
No exercício da presidência da sessão, o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) pediu a Cristovam e Jefferson Péres que continuem na luta política. E admitiu nunca ter visto uma campanha tão extensiva de desgaste do Parlamento brasileiro.
Agência Senado
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